quinta-feira, 22 de março de 2012

Entrevista a Luís Miguel Raposo autor de "O teu relâmpago na minha paz" - Blogue Mil Estrelas No Colo

Entrevista a Luís Miguel Raposo autor de "O teu relâmpago na minha paz" - Blogue Mil Estrelas No Colo

1 - Fala um pouco sobre ti.

Sou natural de Almada e completei em novembro quarenta anos. sou licenciado em gestão de empresas com pós-graduação em marketing internacional. o mar e o surf são paixões já antigas. actualmente, costumo surfar sobretudo na Costa de Caparica, com um grupo fantástico de amigos que receberam muito bem o meu primeiro livro, «marés de inverno», editado em 2009. Dois anos depois, foi publicado o «quando morreres vou amar-te» e agora, pela Alfarroba Edições, «o teu relâmpago na minha paz». Sou fã de todas as formas de metal mais extremo e de música alternativa, mas o cd que mais vezes ouvi é o «koln concert», do Keith Jarrett. sou muito nostálgico em relação à minha terra e sempre que posso revisito os espaços e os amigos que me são mais queridos. Tenho um irmão, alguns anos mais velho, que vejo menos vezes do que gostaria. Gosto de acordar cedo, mas detesto despertadores. gosto de escrever em lugares cheios de pessoas, mas irrita-me ser interrompido. Vi o «excalibur» dezassete vezes e li o «stonehenge» oito.



2 - Quais as tuas influências e qual o teu género literário favorito?

O romance histórico e o enredo policial dominam as minhas preferências literárias. Predominantemente o primeiro. Um rápido olhar para os lugares dos meus livros, alguns parece-me que crescem do chão, permite concluir que cerca de 90% contam-se entre esses dois géneros, com hegemonia, como disse, do romance histórico, sobretudo Bernard Cornwell. da distância entre os livros no meu chão e os meus próprios trabalhos resulta evidente que não vou farejar influências às minhas leituras. A minha maior influência é a realidade mais simples das coisas e das relações humanas. Vou portanto vasculhar no mundo em meu redor e nas memórias a matéria para escrever. escrevo sobre o que me incomoda e o que me fascina.

3 - Quando soubeste que querias ser escritor e como foi o teu início na escrita?

Ainda hoje não sei se quero ser escritor. De certeza absoluta, não me considero escritor. Escritor é quem escreve para viver e vive para escrever e, desgraçadamente, na conjuntura actual, escritor é quem a máquina editorial diz que é. Não me revejo neste enquadramento, é um peso que não quero ainda carregar. Talvez o tempo venha a mudar o cenário economicista da literatura ou venha eu a mudar a minha percepção e possa então por meu turno ver-me como escritor. Sou alguém que escreve livros mas que não deve nada à literatura nem a literatura deve a mim.


4 - Tens uma rotina ou horário de escrita ou deixas simplesmente a imaginação fluir?

Sou muito caótico no meu processo de escrita. É-me difícil impor-me uma disciplina. Escrevo nos mais variados lugares e raramente em casa. Gosto de escrever em ambientes ruidosos e movimentados, lugares improváveis. Em casa sinto o peso da obrigação de produzir e isso desliga-me. Procuro imaginar o ponto central de uma ideia, que pode ser uma frase somente, e evoluir em espiral desde aí. Gosto de escrevinhar à mão num papel até já não caberem mais riscos, mais palavras soltas, mais alterações. e só então pego no computador para ver se consigo naturalmente construir alguma ordem do caos. Escrevo na mesma medida em que os pensamentos me surgem, frequentemente intercalados. certas vezes arrumo-os, forneço-lhes ordem. outras, nem por isso. Deixo-os na forma como surgiram. Alguns leitores apreciariam uma arrumação mais clássica.

5 - Por favor, fala-nos sobre o teu livro. Como surgiu a ideia inicial?

Às vezes penso que «o teu relâmpago na minha paz» é um livro bipolar. Tem traços comuns aos meus trabalhos anteriores, como a profusão de sentimentos e uma escrita emotiva, mas tem também uma vertente diferente e fresca, muito ritmada, cheia de peripécias, momentos lúdicos, até mesmo absurdos. A história passa-se em Almada, evoluindo entre lugares reais. João pedro, o protagonista, tem uma relação de estante arrumada com Vera, toda a sua vida organizada e um percurso profissional em ascensão. Certo dia conhece Carla e a sua estante começa a desmoronar. Todo o seu tempo é comandado por Carla. Conhece ainda Rita e em todos os seus pensamentos nenhum é capaz de resistir ao apelo de Rita.
Inicialmente, a ideia consistia em expor um indivíduo muito formatado e arrumadinho à cultura do surf de um modo enxovalhado e conflituoso. Carla surgiu então como a causa para essa exposição, mas, à medida que ia escrevendo, assumiu outra dimensão e outro relevo.



6 - Quais os teus projectos futuros?

Para já, apenas sei que quero escrever a sequela do «marés de inverno». Aliás, várias vezes comecei e outras tantas parei no mesmo vazio de ideias que me satisfaçam. É algo que vou ter de ultrapassar. Talvez venha a abrir um passatempo a solicitar ideias (risos). Depois disso, é possível que venha a dar um rumo diferente à minha forma de escrever e deslocar-me dos meus temas habituais. Mas, para já, são só possibilidades, nada de definitivo.

7 - Que conselhos darias às pessoas que sonham um dia verem os seus livros publicados?

Escrevam sobre o que está na moda, no formato que é moda. Mastiguem o ego e aceitem a submissão aos interesses comerciais dos grandes grupos editoriais. Ou então escrevam algo genuíno, com qualidade literária e verdadeiramente diferente e aceitem o sacrifício de encontrar uma editora que o leve às estantes das livrarias. Em qualquer dos casos, é possível. Mas é sempre necessário persistência. A internet, e em particular as redes sociais e o fenómeno dos blogues, pode ser uma ajuda importante para divulgar um trabalho desconhecido e chegar à atenção das editoras.

Perguntas rápidas:

Um livro: “Stonehenge”, Bernard Cornwell
Um autor (a): Bernard Cornwell
Um actor ou actriz: Tim Roth
Um filme: Big Wednesday (Os Três Amigos)
Um dia especial: o dia em que a Teresa Loureiro me telefonou a dizer que gostaria de publicar o meu manuscrito, que veio posteriormente a chamar-se «marés de inverno».
Um desejo: recuar no tempo

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