quarta-feira, 25 de julho de 2012

Entrevista e opinião à autora Célia Correia Loureiro - "Mil Estrelas no Colo"

Entrevista a Célia Correia Loureiro – Autora do livro «Demência»


Célia Loureiro é de Almada e nasceu em 1989. É licenciada em Informação Turística, mas garante que a sua vocação e a escrita e eu apoio esta vocação porque é simplesmente maravilhosa!
Muitos Parabéns pelo livro! Li-o e adorei! Fiquei completamente fascinada, não o conseguia parar de ler e quando o fazia passava o dia todo a pensar nele. Espero que gostem como eu gostei.
Agora vamos as perguntas:
1 – Fala um pouco sobre ti.
Bem… o que pode ser importante acerca de mim? Provavelmente os cinco irmãos, as influências da avó, as aldeias da minha infância (para férias, porque sempre vivi em Almada), a minha curiosidade de gato que me fez pôr o ouvido à escuta a cada vez que alguém narrava eventos da vida. Talvez também o meu amor pela História e a minha Licenciatura em Informação Turística, que me permitiu aperfeiçoar isso e conhecer melhor a cultura portuguesa e o seu património. Gosto de viajar e, geralmente, é isso que me inspira, mais do que qualquer outra coisa. Como aparte gostava de dizer que gostava de ter vivido noutra época…
2 – Quais as tuas influências?
Não tenho nenhumas, o que pode soar duvidoso, mas é verdade. Nunca dei por mim a sentir nenhum outro criador a tocar-me na hora de criar a minha obra… não sei se é bom se é mau, mas é a verdade. Acho que é essencial sermos um quadro limpo de influências para podermos criar algo de raiz, a que possamos chamar “nosso”.
3 – Quando soube que queria ser escritora e como foi o seu início na escrita?
Comecei por escrever contos e pequenas “histórias” assim que pude desenhar e escrever. Em 2007 escrevi o meu primeiro “romance” à séria, com muitas personagens (e páginas!) e um enredo complexo. Daí à publicação passaram quatro anos… quanto à recepção da obra, cumpri o meu objectivo: tenho tido bons feedbacks mas, melhor do que isso, houve muita gente que se sentiu pessoalmente tocada por esta história e que expiou parte dos seus males ao lê-la. É essa realização que tirei deste meu “início” na escrita como autora publicada…
Na realidade eu não “quero ser escritora”, como é que hei-de explicar? Vejo a escrita como um hobby. Adorava ter mais tempo para escrever, mas era incapaz de largar tudo agora e dedicar-me a isso – ainda que fosse possível financeiramente. Tenho que viver muito para ter bagagem suficiente – escrever baseia-se nisso, em vivências. Se fosse escritora faria o quê? Ficaria sentada a escrever e a olhar pela janela em busca de ideias? Tenho é esperança que, quando chegar à reforma, me possa isolar e, aí sim, pôr em ordem as minhas lições de vida com obras que só nessa altura farão sentido.
4 – Por favor, fala-nos sobre o teu livro. Como surgiu a ideia inicial? 
Não sei dizer ao certo… mas acho que o tema me indignou, carregava-o na cabeça constantemente e pareceu-me um flagelo tão grande quanto o absurdo da guerra. Sim, comparei isso a uma guerra por vezes silenciosa, travada entre paredes entre inimigos desiguiais. Indigna-me muito a ideia de que alguém ultrapasse tantos limites de respeito e civilidade e se imponha, através da violência, a outra pessoa. Sempre me disseram que morria se tivesse vivido noutra época, por causa da minha língua afiada. Mas o mais provável, nesta ou noutra época, era que me tivesse defendido fosse como fosse. Quis pegar nisso, numa mulher que vencesse a força doutrem como pudesse, é o que a Letícia faz. Agora… se é compreensível? Se é aceitável? Há demasiadas coisas a entrarem em rota de colisão com este género de “subversão”, de rebelia… Religião, tradição, são coisas enraizadas e invioláveis… Quis que ela fosse julgada nesse tribunal. Mas é um tema actual, não? Há mulheres a viver esta realidade hoje em dia. Há mulheres com sentenças semelhantes…
5 – Tens alguma personagem favorita no livro?
Eu costumava dizer que a minha personagem favorita era o Sebastião, porque ele funciona como a consciência da Letícia e da Olímpia. Mas se calhar ele personifica qualquer velhinho com paciência e bom coração, e dei-me conta de que o Gabriel é a minha personagem favorita, agora que perguntas. É ele que sofre o maior desenvolvimento ao longo do romance e é ele a personagem mais complexa. Ele passa por tantas fases … tímido, confuso, frustrado, conformado, esperançoso, incrédulo, acusador, distante, irónico, arrependido, reflexivo, apaixonado, decidido, tanta coisa, não é? A história toda parece passar-se dentro da cabeça dele, com todos os seus altos e baixos. E no fundo as contas acabam por ser feitas é com ele, não é?
6 – Tiveste dificuldade em escreve-lo ou foi natural?
Dificuldade não tive, porque a partir do momento em que assentei a primeira palavra no documento e pensei que sabia aonde ia, descobri que a história ia ter livre arbítrio… mas ela fluiu. Foi lógico o modo como tudo se conjugou – eu tinha uma ideia muito mais simples, a) b) c), mas estas personagens obrigaram-me aos a) 1 e aos a) 2 e etc. Deram profundidade ao romance, conferiram-lhe humanidade. Quando o reli, meses depois do lançamento, achei-o muito humano, muito pés-no-chão. Por isso só tive de pôr de parte a questão de se tratar de ficção, enquanto o escrevia, e seguir os meus instintos. Ele escreveu-se por si.

«Demência» – Célia Correia Loureiro [Opinião]


Acompanho as novidades da Alfarroba com alguma frequência já que tenho parceria com a editora e também porque gosto e aprovo o trabalho que tem sido feito pela mesma, na publicação de jovens autores portugueses. Cada vez mais é necessário apostar no que é nosso, porque o que é nosso é bom, aliás é muito bom.
Contudo, este não foi dos que me chamaram a atenção, não sei porquê. Não sei se pelo tema que não me chamou a atenção ou simplesmente porque não lhe prestei muita atenção. Entretanto várias pessoas foram lendo o livro e publicando opiniões realmente positivas. Aí fiquei na dúvida e pensei que tinha de lhe dar uma oportunidade. Passou algum tempo e por coincidência acabei por conhecer através do blogue a própria escritora do livro. Conversamos e acabei por adquirir o livro através da mesma. Logo que chegou não demorei muitos dias para o começar a ler.
Estava tão receosa! Tinha tanto medo de não gostar… e depois? Não queria partir o coração a ninguém que se tinha dedicado com tanto empenho no nascimento de um sonho seu.
Se eu disser que fiquei completamente rendida logo nas primeiras páginas vocês acreditam em mim? Eu mal podia acreditar que estava a ler aquela história. Não foi apenas coisas dispersas que me conquistaram, mas sim o seu todo. A aldeia, as personagens, o tema, a escrita…a escrita Meu Deus!! Porque raio esperei tanto por ler este livro? Só uma palavra para descrever o meu sentimento: AMEI!!
Identifiquei-me tanto com o livro no geral… Célia Loureiro soube sem dúvida construir uma história com sentido, sem cair no exagero da emoção. Este tema podia muito bem ter sido mais um cliché! Mas isso não aconteceu… e os temas que aborda não são nada fáceis e são temas recorrentes em todo o mundo, todos os dias infelizmente. A violência doméstica, o Alzheimer e a discriminação que se vive em pequenas localidades.
Depois claro, o romance romântico do livro foi outro ponto que me cativou imenso. Achei que a relação foi bem construída apesar de uma vez eu ter sentido que houve um salto muito grande de uma atitude para outra. Alguns capítulos mais longos também não me agradaram, mas isso é uma característica minha como leitora e não defeito do livro. Mas penso que pormenores como estes são apenas por ser o primeiro livro da autora que é publicado. Uma autora tão nova que mostrou uma profundidade de emoções que realmente me surpreendeu. Se eu não a conhecesse associaria sem dúvida o livro a uma pessoa mais velha.
Fiquei completamente fascinada com esta história! Simplesmente não conseguia parar de ler! E quando o fazia, ficava o dia todo a pensar na história, nas personagens, no que iria suceder. Apaixonei-me por completo por este livro e posso afirmar sem sombra de dúvida que está no topo dos melhores livros que li este ano!

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